Um arauto da desventura
Bem, o que o livro relata faz lembrar justamente esta situação da senhora no ponto de ônibus: não querer saber da situação de sua saúde, pois o mais importante é curtir a "cervejinha".
É um pequeno exemplo do que ocorre com boa parte dos brasileiros.
Na obra A Nova Era e a Revolução Cultural, Olavo de Carvalho mostra a "doença" do nosso país, como "médico" especialista da situação cultural brasileira. Semelhante ao médico que examina seu paciente, descobrindo o que há de errado para fazer o prognóstico.
O problema porém é que não há na obra um prognóstico para o Brasil, segundo percebeu o autor no Posfácio do livro, tal como um arauto da desventura:
(...)Então chegamos a este ponto. Temos um governo fraco, que não vai conseguir fazer grandes mudanças estruturais na economia nem na sociedade brasileira, e que por essa razão insiste apenas na revolução sexual, e que aos poucos vai tentar construir uma força policial para implantar uma ditadura. Mas isso vai levar muito tempo. (...) Enquanto isso, o que a esquerda vai fazer é aprofundar a revolução sexual. E nada mais. A perspectiva do Brasil é a total desmoralização. (...) Dificilmente vamos ver uma situação de decadência social tão óbvia e tão clara. (...) Culturalmente ele já está dissolvido. Vemos essa dissolução até na língua nacional. Hoje as pessoas são incapazes de dominar o próprio idioma, e não estou falando da incapacidade do povão, mas dos escritores, jornalistas e intelectuais em geral. Quando se acaba o idioma, acabou a identidade nacional. (...) Concluindo, o que eu vejo, então, no Brasil, é um moribundo se agitando contra um fantasma. O moribundo é a esquerda, e o fantasma, que só existe na cabeça do moribundo, é a direita. O Brasil está se decompondo e a única coisa que a esquerda pode fazer é aprofundar essa decomposição."Ain! Você é muito radical!" - é o que muitos pensam ao ler um diagnóstico tão aterrador, franzindo a testa numa careta de reprovação. Afinal, gozamos de boa dose de liberdade, podendo viajar livremente, debater sobre os mais diversos assuntos, reunir a "galera" para um churrasco ao som de axé-pagode-sertanejo-sofrência-funk... Apesar do desemprego, corrupção e de vermos os preços aumentarem, o dinheiro para a "cervejinha" não falta, mais gente tem carro, faz viajem de avião...
É a dona no ponto de ônibus que não queria saber se tinha alguma doença que, possivelmente, a forçaria a mudar hábitos muito agradáveis aos quais ela já a muito se apegou e não se dispunha a largar. Em suma, em nome de um prazer passageiro, abre mão de boa saúde duradoura. É mais divertido cantar com Elza Soares - "Eu bebo sim, e estou vivendo..." (e enquanto isso a cultura do país está morrendo).
O medo de saber
Nossa geração canta com Cláudia Leite, "Extravasa! Libera e joga tudo pro ar! Eu quero ser feliz antes de mais nada!". É a minha felicidade em primeiro lugar. Não importa se para eu ser feliz, pereça toda uma cultura, pereça toda uma nação; não importa se as gerações vindouras sofrerão uma ressaca de duração indeterminada, decorrente dos meus excessos. Outro livro, "Darwinismo moral - como nos tornamos hedonistas", de Bejamin Wiker, mostra como a sociedade ocidental chegou a este ponto.
Hedonismo por Rubens Osório |
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